As próximas eleições portuguesas serão quase anedóticas. Não pelo ato em si, sempre levado muito a sério, mas pelos candidatos. A mediocridade impera. Uma lista do IEFP com ofertas de empregos que pagam salário mínimo empolgaria mais. Pelo menos ali, talvez se conseguisse um aumento no segundo ano…
Depois de um governo recheado de casos e casinhos, que conseguiu perder uma maioria absoluta, impressiona que o calibre da oposição seja desse nível. De empolgante, só mesmo o crescimento do Chega, que os outros partidos insistem em ignorar e gritar «não passará», como se não fosse deles a culpa do Chega se tornar a 3ª força política do país.
Aliás, acho engraçada a retórica de que o Chega é um partido de extrema direita. Não é! Populista, com certeza… o que o torna perigoso. Uma casa de loucos, onde todos os que não se sentem representados pelo sistema tentam ter voz, incluindo saudosistas de Salazar e fascistas.
E quanto às propostas anti-constitucionais… passamos a pandemia inteira a ver um Partido Socialista extremamente preocupado em respeitar a constituição.
Não há nenhum candidato que me agrade nessas eleições e ninguém do meu círculo de relacionamentos parece particularmente empolgado em ir às urnas. O consenso geral é que, com sorte, será escolhido o “menos pior” e isso só favorece o Chega.
Em Portugal e, de uma maneira geral por toda a Europa, continua-se a pensar em “direita” e “esquerda” do ponto de vista económico — mais ou menos liberal —, o problema é que o mundo mudou. Antes havia um consenso nos outros eixos, principalmente nas questões morais. Hoje não é assim, ainda que os partidos continuem a agir como se o fosse.
Tornou-se de “extrema direita” ter preocupações libertárias/autoritárias que não sejam estritamente económicas. É fascista falar sobre políticas identitárias. É nazista questionar se não haverá problemas com algumas minorias e com alguns imigrantes. Do BE ao PSD, com uma ligeira ressalva ao CDS, parece que todos os portugueses são libertários.
Não são e o resultado é o Chega.
O Chega é o PAN dos anormais: ao invés de defender cachorros abandonados, levanta a bandeira anti-políticas identitárias e anti-imigração, mas, se o faz, é porque não há nenhum partido moderado que as queira levantar.
Porquê não há nenhum partido a falar de imigrantes e de minorias? Basta ir a um café qualquer para perceber que Portugal tem problemas com eles. É um assunto delicado e que precisa ser tratado com cuidado? Claro! Mas esta não é razão para que não se discuta. É um pouco como aqueles pais que não falam de sexo com os filhos, o que implica neles indo buscar respostas deturpadas com os amigos ou em sites pornográficos. Se os eleitores não encontram respostas nos partidos “sérios”, vão ter com o Chega. E as respostas que eles oferecem podem não ser as melhores.
Do “todos os imigrantes são terroristas” dos “nacionalistas de direita” ao “todos os imigrantes são maravilhosos” dos “multi culturalistas de esquerda” há uma posição moderada que nenhum partido quer ocupar, então Chega!
O mesmo vale para todas as outras questões. Os problemas não deixarão de existir nem serão calados só porque as nossas elites políticas os consideram “politicamente incorreto”, então Chega!
Não existe vazio de poder e se o Chega se tornou a 3ª força política portuguesa é porque os outros partidos, que deveriam ser moderados, assim o permitiram. Se bem que, pelo que vejo dos candidatos para essas próximas eleições, tenho dúvidas se eles seriam capazes de não o permitir. Quando se tentar agradar a todos, o resultado é sempre a insipidez.