— O senhor está a pagar um preço pequeno, comparado ao que ela está a passar.
— Mas são cinquenta mil, doutor, do meu bolso, sem seguro.
— E porque é que o senhor não tinha seguro?
— Eu tenho, mas não cobre maternidade.
— Como não?
— Não somos casados nem vivemos em união de facto…
— Então os cinquenta mil são o preço de não ter usado preservativo. Da próxima vez o senhor aprende a ser mais responsável.
— Doutor, sejamos sinceros, ninguém tem uma amante de forma responsável.
— Também é verdade, mas a culpa não é minha.
— Nem minha.
— Se a culpa não é sua, é de quem?
— Da natureza.
— Então… deixa-me ver se percebi direito… o senhor afiambra a rapariga, engravida-a e a culpa é da natureza?
— Da natureza pecaminosa do ser humano.
— Ah! Não sabia que o senhor acreditava em Deus.
— Até ter ver esta conta, doutor, eu também não.
— São só cinquenta mil.
— Não acho que “só” e “cinquenta mil” fiquem bem numa mesma frase, doutor. Além do mais não são só cinquenta mil. Há também a pensão de alimentos, a casa e metade do que paguei pelo carro, porque, quando a minha mulher descobriu, não deixou barato. Ficou até com a minha alma e ainda pediu o divórcio.
— Mulheres traídas tem a tendência de agir assim.
— Mas foi só uma vez.
— Em terreno fértil, basta uma vez… Da próxima vez usa preservativo.
— Não vai haver próxima vez.
— Então o senhor aprendeu a lição?
— Pagando cinquenta mil pelo curso, quem não aprenderia?
— Viu? Algo de bom veio disso tudo. Aproveita e vai ter com a sua mulher…
— Amante.
— Isso, amante. Vai ter com ela e assistir o nascimento do menino. Aproveita enquanto pode porque se o senhor está a chorar agora por causa de cinquenta mil, espera só até chegar a conta da universidade.