Entro no avião um tanto quanto acabrunhado, exemplarmente tapado, mas, ao meu lado, senta-se um loiro alto, bonito e sensual com tudo de fora. Não é só ele. À exceção das hospedeiras e dos portugueses, está toda a gente pelada. Fazer o quê? Tiro a minha máscara também.
No aeroporto Arlanda, a minha mulher pergunta-me: “não será melhor cobrir alguma coisa”?
Olho para os seis polícias fortemente armados com metralhadoras que rececionam os recém-chegados. Conversam alegremente entre si, cobertos unicamente por um uniforme e um colete de kevlar (no masks). Ao que parece, aqui só se tem medo de terroristas radicais. Sigo como estou.
Os próximos dias são um processo. É um reaprender a sentir-se bem com o meu próprio corpo e a não ter vergonha de mostrar a tromba publicamente.
Alguns têm trombas grandes, outros pequenas, a grande maioria tem uma assim normalzinha. A máscara nivelou toda a gente por baixo, tal e qual aquele desenho do pica pau. Mas está na hora de voltar a assumir as diferenças.
Viro-me para alquém (também sem máscara) na rua. — Ah, não sei o quê, e tal, o COVID?
— O o quê?
— COVID?
— Não sei o que é isso, senhor. Mas há uma balcão de informações turísticas logo ali na esquina. Talvez eles saibam.
Não preciso dizer que foram férias maravilhosas. Sem máscara no metro, sem máscara no autocarro, sem máscara nos supermecados e sem máscara até mesmo… em todo o lado, basicamente. E não era só na Suécia, pois viajamos também para a Noruega e para a Estónia.
Impossível não me lembrar da entrevista com um especialista português que dizia que os cidadãos deveriam usar máscara até dentro de casa. Posso falar palavrão aqui? Claro que posso, afinal o blog é meu. Pensado bem, irei apenas pensar algum lugar muito agradável para ele enfiar a sua máscara.
Mas aí vem a dúvida. As meninas (minhas filhas) não foram vacinadas! OMG, o que será delas!?!?
Nada!
Fazemos os testes do COVID e, para a nossa surpresa, depois de duas semanas sem máscara no meio milhares de pessoas, em espaços fechados, nada…
Só nos resta voltar e, já no aeroporto de Lisboa voltar com o suplício e tapar a trompa. Já tenho saudade de todos aqueles nórdicos pelados e de andar assim entre eles.
Como seria bom se todos os portugueses tivessem ido passar férias à Suécia. Queria ver por quanto quanto tempo mais continuaríamos como estamos…