O Brasil não é para amadores. Aqui a “chapa esquenta”, as leis saem queimadas e é cada um por si, mas com alguma coisa em comum. Seria triste se não fosse piada e garantem que não é… mas falemos um pouco sobre racismo e sobre discriminação.
Para começar, embora não conheça os Estados Unidos, sei que — desde o grande porrete do Roosevelt — o Brasil é para os americanos.
O que eles fazem, copia-se, e o que eles querem é uma ordem. Aqui, turista que se preza vai todos os anos — até morrer — à Disney. Se ainda estiver vivo depois disso e sobrar algum dinheiro, aí… talvez… tenha sentido pensar em conhecer a Torre Eiffel, a Ponte Vecchio ou o Big Ben.
Com a cultura não é muito diferente. Claro que todos levamos com o sonho americano, o que não é necessariamente mau — prefiro mil vezes o Tio Sam ao Irmão Chen —, mas aqui ele vem primeiro e com muito mais força. Aqui a aculturação é massiva, e as manias, e as ideias são aplicadas religiosamente apesar das diferenças óbvias entre os dois países.
Em tempos de woke e de outras ideologias fanáticas, o brasileiro acha que o país do Trump é que sabe o que é bom, apesar de todos os absurdos óbvios, marinados numa profunda hipocrisia.
Em inglês matou-se todos os índios, e em inglês exige-se que os latino americanos tratem muito bem dos seus, de preferência instalados em ricas reservas numa Amazónia intocada pelos interesses nacionais.
Quando pensamos que, em meados do século XX, milícias de cidadãos ainda se juntavam para enforcar negros em praça pública e que estes não podiam — por força de lei — entrar num bar só para brancos, percebemos que a luta antirracista na América do Norte não é uma luta por melhores condições, mas uma resposta de ódio ao ódio.
E este ódio racial puro e simples, desde os tempos de José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa… não é brasileiro.
O que tenho visto aqui é muito triste, porque, ao invés das pessoas procurarem juntar-se como iguais, fazem todos os possíveis para separarem-se como diferentes.
Racismo Reverso existe
Roberto Carlos já explicava que a “sua estupidez não lhe deixa ver” e é verdade, a estupidez não deixa ver muitas coisas… mas podemos “usar a inteligência uma vez só” e perceber há coisas que não têm lógica.
Há muita gente boa que acredita que o “racismo inverso” não existe, ou seja, só um branco pode sentir e praticar racismo contra uma minoria. Para eles, o reverso não acontece, nem pode acontecer, já que um negro ou outra minoria não é racista.
Não comentarei esta ideia porque não é preciso. Coloco-a na mesma prateleira do terraplanismo e já está. O interesse aqui vem os problemas que ela causa.
No Brasil, por lei, o racismo é um crime inafiançável, equiparado ao terrorismo e, para muitos, pior que um assassinato.
Agora, por causa desta ideia de não existir “racismo inverso”, o que percebo é que isso só é verdade se o “racismo” for contra uma minoria, ou seja, partir de um branco.
Vi pessoas a vestir t-shirts a dizer “100% negro” e maravilha! Mas se fosse um loirinho a vestir um “100% branco” haveria um linchamento público porque, obviamente, ele é um fascista, nazista, racista…
O mais engraçado é que, se um branco sair à rua com uma camisa a dizer “100% negro” pode ser preso, porque, no Brasil, há uma uma lei que diz ser crime a apropriação cultural indevida.
No Brasil, se um amigo angolano ou cabo-verdiano oferecer-me uma roupa tradicional e eu vestí-la, posso ser preso por estar a apropriar-me de uma cultura que não é a minha. Antes que me perguntem não, não é sacanagem. Estou a falar a sério.
Alguém contou-me um caso sobre uma conferência de sacerdotes de candomblé — uma religião africana — onde um dos sacerdotes de mais alto nível era branco e teve problemas porque é tradicional o uso de turbantes, que ele não podia usar por ser um adorno africano.
Novilíngua
George Orwell deve estar a revirar-se no túmulo e a pensar em mudar o seu nome para Cassandra (quem entender, que entenda). Percebi muito bem o uso da força da lei e da censura social para obrigar a mudança da língua para provocar uma “mudança de comportamento”. Uma das coisas que mais ouvi do outro lado do Atlântico foi “tenho que tomar cuidado com o que digo” ou “tenho medo de dizer certas coisas”.
Por exemplo, no Brasil já não há favela porque, obviamente, é uma palavra racista. Aqui passaram todos a fazer parte de comunidades.
Na minha adolescência, era extremamente ofensivo chamar um negro de preto. Hoje, o negro é preto sempre menos no seu dia, porque o feriado e às comemorações vão para a consciência negra.
A Secretaria de Estado de Direitos Humanos do Espírito Santo divulgou uma lista de palavras racistas que não podem mais ser ditas. Dentre elas:
- Meia tigela
- Denegrir
- Mercado negro, magia negra, lista negra e ovelha negra
- Criado mudo
- Doméstica
- Feito nas coxas
- Nos últimos dias
Saí do Brasil em 1999 e voltei pela primeira vez de férias dois anos depois. Só então comecei a perceber algumas ideologias antirracismo que se faziam sentir ali, apoiadas pela Lei Caó.
Lembro de ter comentado com um amigo que aquilo era um erro. Não por ser contra os direitos dos negros, mas porque criar uma consciência afro-brasileira, ao invés de uma outra, brasileira, que compreendesse igualmente brancos, negros, índios… era uma péssima ideia que criaria problemas onde não havia.
É exatamente isto que vejo hoje.
Cristo disse no livro de Mateus que o início dos últimos dias seria marcado por guerras e rumores de guerras. Nações levantar-se-iam contra nações, reinos contra reinos, e surgiriam muitos falsos profetas que enganariam a muitos.
Não acredito, particularmente, que o fim do mundo esteja para a breve, mas acho que este texto se aplica muito bem aos nossos dias.
Hoje tantas ideologias têm surgido e sido seguidas com fervor quase religioso, têm causado ódio e divisão ao invés de tentar unir em amor…
Não posso deixar de pensar que estas nações que se levantarão contra nações são apenas seres humanos, que antes eram amigos e irmãos, mas que agora são brancos, negros, de direita, de esquerda, gays, lésbicas, pró-Bolsonaro, pró-Lula…