Orçamento! Orçamento? Orçamento. Os últimos dias foram um bom exemplo do estado dos media em Portugal. Foram semanas em que só se falou do orçamento do Estado, para compensar as semanas em que só se falou nos incêndios, para compensar as semanas em que só se falou nas gémeas brasileiras…
Chegava a ser engraçado! Os comentadores pareciam o João Ricardo Pateiro a narrar uma aproximação de Cristiano Ronaldo em direção ao golo.
— Luís Montenegro aproxima-se.
— Pedro Nuno trava! Não há orçamento.
— Mas calma! Ainda não há medida concreta.
— O Chega finta e reclama de mão na bola.
— Marcelo manda continuar.
— Luís Montenegro vem novamente.
— Marcelo ameaça! Vai dissolver a Assembleia.
É impressionante como os factos políticos se sobrepõem a factos políticos, numa sequência de importantíssimas notícias irrelevantes, onde um peido vale muito mais do que uma reforma do Estado.
Não sei se é só em Portugal, mas parece que a qualidade dos políticos é cada vez menor, o que é triste: em democracia, isso geralmente significa que nós, eleitores, temos uma qualidade cada vez menor.
De um lado, políticos que precisam de andar no campo minado das redes sociais, sabendo que, seja onde for que pisem, algo vai explodir e alguém ficará melindrado. Do outro, nós, que carecemos de literacia e nos deixamos embalar por cantigas de amor e de ódio; por gémeas e por outras trivialidades.
Em Portugal, e não só, um bom político é aquele que sabe andar por entre os pingos da chuva sem se molhar. E há muitos que conseguem! Mais vale não fazer nada do que fazer.
Dia após dia, ano após ano, tudo aquilo que é essencial vai sendo deixado para mais tarde. O importante é impopular e faz perder votos. Vivemos no país dos não-me-toques.
Quase sinto que o nosso dia a dia se passa numa revista cor-de-rosa, onde o topless da modelo é substituído pela gafe do Ministro Fulano ou pela “boca” do Secretário Beltrano. Só que, enquanto nos entretemos nas fotos, somos ultrapassados até pela Roménia.
